domingo, 6 de julho de 2014

Cientista político prevê polarização nas eleições





Ítalo Fittipaldi avalia que a Paraíba terá uma das eleições mais acirradas dos últimos tempos.O cientista político Ítalo Fittipaldi avalia que a Paraíba terá uma das eleições mais acirradas dos últimos tempos. Segundo ele, a disputa deverá ficar polarizada entre as candidaturas do governador Ricardo Coutinho e do senador Cássio Cunha Lima. “Nós temos aí dois candidatos que conseguiram apoios importantes, apoios expressivos do ponto de vista de densidade e é isso que vai gerar essa polarização”, afirmou o cientista em entrevista exclusiva ao JORNAL DA PARAÍBA. Ele acredita que só quando começar a propaganda eleitoral gratuita é que se poderá avaliar qual será a tendência do eleitor.


JORNAL DA PARAÍBA - Como fica o panorama político do Estado com as candidaturas que foram postas para disputar o governo?

ÍTALO FITTIPALDI - Com essas candidaturas que estão postas, nós observamos que há mais uma vez uma tendência de polarização do processo eleitoral. A candidatura do senador Cássio Cunha Lima, no momento em que houve a viabilidade jurídica para essa candidatura, sem sombra de dúvida permitiu uma reconfiguração dessa polarização. A polarização ia haver, mas certamente ela não seria tão acirrada quanto será a partir de agora no momento em que já está posta esta candidatura. Essa polarização vai ficar entre o atual governador e o senador Cássio Cunha Lima.

JP - Quem fez a melhor coligação na disputa para o governo? Ricardo ou Cássio?

ÍTALO FITTIPALDI - É indiscutível que quem está no poder sai na frente. Você tem na verdade uma chance de atrair apoios de redutos eleitorais importantes do Estado. Porém, nós temos, também, do lado da oposição, o próprio nome do senador Cássio Cunha Lima, na verdade o grande vencedor da eleição de 2010, o que faz com que ele tenha também uma penetração no colégio eleitoral importante do interior do Estado e a viabilidade de sua candidatura faz com que determinadas forças que talvez antes pudessem até gravitar em torno do governador Ricardo Coutinho, terminem mudando de ideia. No primeiro momento o governador leva uma pequena vantagem pelo fato de estar no governo e isso aí faz com que alguns apoios sejam importantes nesse primeiro momento. O sentimento de que o primeiro mandato de Ricardo Coutinho talvez não tenha sido um mandato que tenha lidado muito bem com os seus auxiliares e o fato do senador Cássio Cunha Lima ter todo esse apelo eleitoral que sempre teve aqui na Paraíba o fortalece no momento que a campanha ganha efetivamente as ruas. É por isso que eu falei de polarização. Nós temos aí dois candidatos que conseguiram apoios importantes, apoios expressivos do ponto de vista de densidade e é isso que vai gerar essa polarização, essa campanha mais acirrada que nós vamos ter aqui no Estado.

JP - Como o senhor avalia a aliança que os petistas fizeram com o governador Ricardo Coutinho, quando até pouco tempo eram oposição?

ÍTALO FITTIPALDI - É aquela aliança de ocasião. Na verdade o PT era oposição, estava aliado com o PMDB, e de repente o governador, no momento que percebe que estava perdendo apoios políticos importantes, oferece a vaga do Senado para o PT. Foi uma estratégia benfeita, mas só foi possível fazê-la porque ele é governador. Se fosse o inverso, se ele estivesse na oposição certamente o PT não teria embarcado nessa.

JP - O senhor acha que na campanha o debate vai ser de quem fez mais ou fez menos pela Paraíba?

ÍTALO FITTIPALDI - Não acredito. Eu acho que vai ser aquele mesmo debate medíocre que nós temos visto aqui no Estado há muito tempo. Na verdade ninguém discute pontos importantes para o desenvolvimento do Estado da Paraíba. Fica sempre em torno do personalismo de alguns políticos e só quem perde com isso é a própria sociedade paraibana. Problemas que a Paraíba vem trazendo há décadas nunca foram tocados. Por exemplo, uma ampla reforma na administração pública. No momento em que a Constituição Federal, a partir de 1988, descentralizou um conjunto de políticas públicas para Estados e municípios. Para implementar essas políticas você precisa de um corpo administrativo competente e isso a Paraíba não tem. Na verdade isso nunca foi discutido, nunca entrou na agenda de campanha aqui no Estado, porque não há interesse de se fazer uma profissionalização, um aperfeiçoamento da gestão pública. Boa parte dos cargos públicos são moeda de troca em campanha eleitoral. Infelizmente, não acredito que vai ser aquele debate de quem fez mais ou quem fez menos. Até porque muito do que tanto um quanto o outro fez não tem impacto nenhum para o Estado. Se fosse essas maravilhas, nós teríamos o Estado da Paraíba menos pobre e mais desenvolvido. Se nós não temos é porque o que fizeram não foi importante. Nós vamos ter uma campanha muito personalíssima, muito centrada na figura do candidato e não mais do que isso.

JP - E o eleitor, na sua opinião, como ele deverá se posicionar na campanha?

ÍTALO FITTIPALDI - A gente só vai ter condições de perceber para que direção está caminhando o eleitorado a partir do momento em que o processo eleitoral efetivamente começa. Quando isso acontece? Quando começa o guia eleitoral. É a partir do guia eleitoral que o eleitor percebe que nós vamos ter eleições em outubro. A partir daí é que a gente vai ter condições de poder fazer um mapeamento de qual é a tendência desse eleitor. Nesse momento eu não me arriscaria a fazer qualquer diagnóstico de para onde está indo o eleitorado. Eu acho que só a partir do começo do guia eleitoral a gente vai ter mais ou menos condições de dizer para onde caminha o eleitor. Se quer mais o governo atual, ou se porventura vai optar por um candidato da oposição.

JP - O senhor acha que teremos um considerável número de votos brancos e nulos nas eleições?

ÍTALO FITTIPALDI - Acho que o percentual vai ficar em torno do que vem sendo o percentual histórico, em torno de 25% a 30%. Não acho que seja superior a isso. É alto? Mas é a tendência histórica do comportamento do eleitorado brasileiro.

JP - Nós estamos falando em eleições majoritárias, mas não vamos esquecer de que teremos eleições proporcionais, ou seja, a escolha dos representantes para a Assembleia Legislativa e para a Câmara Federal. Na sua avaliação, quais são opções dos eleitores para não fazer a escolha errada para esses cargos?

ÍTALO FITTIPALDI - Nas eleições proporcionais o eleitor tem uma outra lógica para definir o seu voto. Não tem tanto a ver com transferência de votos de governador para deputado. Numa eleição proporcional certamente o que vai pesar é a natureza das coligações e obviamente o ponto de contato que aquele candidato tem com os seus redutos eleitorais. Não tem tanta influência da eleição de governador. Vai depender muito de como foram compostas essas coligações por causa do coeficiente eleitoral e como o candidato lida com as bases eleitorais. Tudo isso aí é que vai determinar o voto dos deputados federais e dos deputados estaduais.

JP - Teremos uma renovação grande na Assembleia Legislativa?

ÍTALO FITTIPALDI - Eu não arriscaria dizer o percentual, mas acredito que não vai ser baixo não. Historicamente essa renovação apresenta um percentual expressivo. Isso também acontece em outros Estados do Brasil. Não acho que teremos uma taxa de renovação dos parlamentos estaduais nessa eleição muito pequena.

JP - Aqui na Paraíba a eleição será decidida no primeiro turno?

ÍTALO FITTIPALDI - Acho que não. Eu acho que a eleição deve ir para o segundo turno. É como eu falei, a gente só vai ter condições de dar uma resposta mais precisa no final de agosto, no momento que começar o guia eleitoral. Mas pelo grau de polarização dessas candidaturas, e principalmente de um terceiro nome, que é a candidatura do PMDB, talvez a gente não tenha uma eleição definida no primeiro turno. Se por outro lado ficar polarizado só entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima, acredito que sim, que possa ter uma eleição definida já no primeiro turno. Porém, isso vai depender da candidatura do PMDB. Quem vai definir se terá ou não o segundo turno vai ser o PMDB. Temos que olhar para a candidatura do PMDB para podermos perceber se o percentual de intenção de votos justificaria um segundo turno. Se a candidatura do PMDB não decolar, se ela não passar dos dois dígitos, dificilmente a gente vai ter um segundo turno e a eleição seria definida no primeiro turno.

JP - Além do guia eleitoral, que peso as redes sociais vão ter na eleição deste ano?

ÍTALO FITTIPALDI - As redes sociais são um instrumento importante de propaganda eleitoral. Não significa que essas redes sociais vão servir como balizador de votos. Até porque uma parte expressiva do eleitorado não tem esse hábito de estar circulando por redes sociais. Eu acredito que na verdade ela vai ser um diferencial para uma ou outra candidatura. Acredito, sim, que ela é um instrumento importante de propaganda. Por exemplo, os políticos que fazem uso dessas redes sociais, sem sombra de dúvida vão levar vantagem porque vão saber se comunicar com esse eleitor que frequenta as redes sociais.

JORNAL DA PARAÍBA - Lenilson Guede

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