Os 33 trabalhadores presos a 700 m de profundidade em uma mina no norte do Chile se despediram na noite passada, com uma emocionada vigília, do lugar onde viveram desde 5 de agosto. Eles se preparam agora para voltar e enfrentar o mundo real.
Com fósforos fornecidos pelos socorristas, os mineiros puderam acender algumas velas, com as quais disseram adeus para sempre ao seu lar subterrâneo dos últimos 68 dias. "Eles têm que se despedir, é bom, porque eles estão dizendo adeus. Isto chegou até aqui, agora começa outra etapa", disse a jornalistas o psicólogo Alberto Iturra, que acompanha os trabalhadores.
"Despedir-se é uma boa forma de se libertar. Que a nostalgia não os amarre a alma para depois", afirmou Iturra. Antes do iminente resgate, os mineiros "fizeram as malas" e enviaram à superfície, em recipientes de plásticos, tudo o que quiseram levar da sua experiência debaixo da terra.
Entre os objetos "devolvidos", estão tocadores de mp3, roupas, Bíblias, revistas e camisetas de equipes de futebol, entre outros presentes enviados de diferentes partes do país e do mundo, e que os mineiros querem guardar de recordação.
Os trabalhadores também receberam, por videoconferência, sua última orientação para enfrentar a multidão de jornalistas de 130 veículos internacionais e 50 nacionais que os esperam na superfície.
Depois da última "refeição" debaixo da terra - que, por sugestão da Nasa, terá uma alta concentração de glicose, proteína, fosfato, potássio e magnésio -, chegará finalmente o momento de deixar a "prisão" para dar boas-vindas a um mundo que tem todos os olhos sobre os mineiros e que os espera com celebrações.
Comemorações para o retorno dos mineiros
A cerca de 45 km da mina, na cidade de Copiapó, o hospital para onde os trabalhadores serão conduzidos foi enfeitado com bandeiras coloridas e guirlandas. Os mineiros devem ficar no local por duas noites.
Da prefeitura da cidade, que suspendeu as aulas nas escolas na quarta-feira, se estima que cerca de 30 mil pessoas saiam pelas ruas para acompanhar o transporte dos mineiros até o hospital. O trajeto também pode ser acompanhado ao vivo por telões espalhados em parques e praças da cidade.
Depois de passarem pelo menos dois dias no hospital, onde se submeterão a diversos exames, os mineiros poderão celebrar o retorno à realidade. À frente, eles já têm uma viagem à Grécia com tudo pago por uma empresa de mineração grega e outras duas à Espanha e à Inglaterra, a convite dos clubes de futebol Real Madrid e Manchester United.
Um dos mineiros, Mario Gomez, vai comemorar em grande estilo com um casamento na Igreja. Após 32 anos de união civil, Gomez pediu a esposa para acompanhá-lo ao altar em uma carta enviada em 17 de agosto. A data da cerimônia, entretanto, ainda não foi marcada.
Após as celebrações, os mineiros terão que decidir o que será de seu futuro profissional, já que 270 colegas de trabalho receberam na sexta-feira o salário de setembro, um bônus e também a carta de rescisão.
Antes de tudo isso, porém, os 33 terão que enfrentar a mídia e o interesse que suas histórias despertaram em cineastas como Rodrigo Ortúzar e o canal de televisão espanhol Antena 3.
Desmoronamento
Em 5 de agosto, um desmoronamento na mina San José, em Copiapó, deixou 33 trabalhadores presos em uma galeria a quase 700 m de profundidade. Após 17 dias, as equipes de resgate conseguiram contato com o grupo e descobriram que estavam todos vivos por meio de um bilhete enviado à superfície. A partir daí, começou a operação para retirá-los da mina em segurança.
A escavação do duto que alcançou os mineiros durou 33 dias. O processo terminou no sábado, quando os martelos das perfuradoras chegaram até o abrigo onde eles estão. Concluída esta etapa, as equipes de resgate decidiram revestir o duto - ainda que parcialmente - para aumentar a segurança antes de retirá-los. O içamento estava previsto para começar à 0h de quarta-feira, mas pode ser antecipado para a partir das 18h de terça.
A cápsula Fênix, que será usada para içar os mineiros, tem 53 cm de diâmetro. Todo trajeto de subida durará cerca de 15 minutos, apesar de a operação de saída levar cerca de uma hora para cada mineiro. Durante todo o percurso de subida, eles terão suas condições de saúde monitoradas, usarão tubos de oxigênio e se comunicarão com as equipes da superfície por meio de microfones instalados nos capacetes.
Do Paraiba oNLINE
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